Nasceu no Porto, a 3 de Junho de 1967. Divide o seu tempo entre Leça da Palmeira e Venade. Publicou o primeiro livro de poemas Há Violinos na Tribo, em 1989, a que se seguiram Rua Trinta e Um de Fevereiro (1991), Este Lado para Cima (1994), Lugares Comuns (2000), 3 (poesia 1987-1994), em 2001, Rés-do-Chão (2003), Luz Última (2006) e A Parte pelo Todo (2009). Mediterrâneo (2016) é o seu terceiro livro de poemas na Quetzal Editores, após a publicação de Poesia Reunida (2011) e de Você Está Aqui (2013).
História de uma tarde
Há
uma réstia de tarde ainda por resolver.
Não durará muito é certo (espera-a
o esquecimento) somente o necessário até
a noite baixar. Ainda falta esta luz
antes de fechar a praia
(um átimo para esquecer
recordar
voltar atrás). Já não sobra muito eu sei
(só instantes sem momentos) esse pouco
que divisa memória de
ilusão. Procuro o inefável na espessura da tarde –
se eu não guardar num poema esta hora atravessada
nem ela nem esta tarde alguma
vez existirão.
Mediterrâneo, João Luís Barreto Guimarães, Quetzal
Still Life
Os livros
abandonados no apartamento de Jan falavam
línguas distintas. Podíamos ir pela estante
(coleccionando fronteiras)
tentando adivinhar quem os teria legado
(quem sabe se em desagravo
pelo rumo da história)
suponho que: pelo desvelo que impele
à partilha. Cruzando o apartamento alugado
tantos anos saudei
nos livros esquecidos a experiência do mundo
(breves rasgões na lombada
testemunhando a viagem)
o olvido por companhia cedo demais
para morrer. Nessa idade em que uma mão (a
minha a
sua: leitor) podia da vida quieta
extrair vida ainda.
Você está aqui, João Luís Barreto Guimarães, Quetzal