Descrição
SITIADOS
para o Vasco Gato
O meu país tornou-se um hábito adquirido
como a resignação perante a morte
O brilho de quem se benze em seco
e treina esgares de póquer
para os aplicar em funerais
Tornou-se o vício de dedicar a vida
à escrita de finais de poema
e redondilhas de arganaz
Ver o amanhã esquelético
e privado da incerteza, povoado
de crianças que não perguntam nada
E é cada vez mais uma terra de soslaios
raiados de alarme e desconfiança
na direcção do bicho mais ameaçador
– a beleza
A sua memória cabe na bagagem de mão,
mas a mão não se move.
Nem sequer gesticula.