Descrição
Concedeste-me a liberdade
sabendo que não queria (não podia) soltar-me:
que, deste modo, te pertenceria
– prisioneira para sempre
da minha escravidão.
Transformaste-me (com o meu acordo)
numa adúltera shakespear(iana)
e romântica.
Sim, deste-me a possibilidade de pecar em paz,
privando-me do teatral jogo sem jogo das crianças,
em verdade brincando de brincar
ao brincar.
Mas não se pode viver sem omissão
– faz parte da natural privacidade,
tal como o indizível
da poesia.
Porque, muito pelo contrário
e ao contrário do que é suposto pensar,
as regras poéticas são algemas a que se oferece o pulso.
Acaso te ocorreu simples?
Meu amor, meu pobre amor, entre a convenção
e a veneração nos movemos: foi então,
essa, a frágil reparação da minha Morte? – o teres inventado
o perdão, para quem culpa
não tinha?