Publicado em

La petite promenade du poète

de Dino Campana

 

Ando pelas estradas

Obscuras estreitas e misteriosas:

Vejo através das vidraças

Mostrarem-se Gemnas e Rosas.

Há quem desça tacteando

As escadas misteriosas:

Por detrás das vidraças reluzentes

Estão as comadres a coscuvilhar.

…………………………………………………………..

A estradinha é solitária:

Nem um cão: são escassas as estrelas

Na noite sobre os telhados:

E a noite parece-me bela.

E caminho, um pobre coitado

Na noite fantasiosa,

Ainda que na boca sinta

A saliva desgostosa. Ando pela pestilência

Ando pela pestilência e pelas ruas

E ando e continuo a andar,

Até onde as casas começam a escassear.

Encontro a relva: ali me estendo

Enroscado como um cão:

À distância um bêbado

canta os seus amores às persianas.

 

Imagem: Paul Klee