Descrição
Giz Preto é a fulgurante estreia poética de Gonçalo Fernandes.
EPIFANIA COMANECI
Nas Olimpíadas realizadas em Montreal no ano de 1976
os júris das provas de ginástica em barras assimétricas
e o resto do mundo (excepto os placards electrónicos)
por várias ocasiões consideraram desprezáveis
todas – mas todas! – as máculas naturais e terrenas
de Nadia Comaneci
O próprio Movimento sorriu pela primeira vez
Metade do Tempo gelara de comoção na barra superior
de punhos fechados sob uma intocável verticalidade
quando o Tempo Restante efectuou a sua saída pela paralela
sem mãos
a voar
Foi a última vez que o Movimento derramou uma lágrima
e essa lágrima não era de ouro
mas de água e sal
como as lágrimas humanas
Foi em 1976, nos Jogos Olímpicos de Montreal, Canadá
Menos de um minuto de Nadia Comaneci
a sós com duas barras paralelas assimétricas
e o resto é paisagem –
o século