Hoje é o dia dele. Da poesia, dos poetas, de todas as palavras, da energia poderosa da mais pura emoção humana. E estas palavras são as palavras da consciência, do amor pelas coisas, pelas pessoas humanas e pessoas não humanas. Agradecemos ao Pina a beleza, a bondade, a fidelidade. Agradecemos por tornar as nossas vidas mais bonitas, por nos criar esta comoção que nos relembra de quem somos e do que temos cá dentro. Precisamos de bons escritores, mas precisamos ainda mais de boas pessoas. Feliz dia da poesia!
As coisas
Há em todas as coisas uma mais-que-coisa
fitando-nos como se dissesse: “Sou eu”,
algo que já lá não está ou se perdeu
antes da coisa, e essa perda é que é a coisa.
Em certas tardes altas, absolutas,
quando o mundo por fim nos recebe
como se também nós fôssemos mundo,
a nossa própria ausência é uma coisa.
Então acorda a casa e os livros imaginam-nos
do tamanho da sua solidão.
Também nós tivemos um nome
mas, se alguma vez o ouvimos, não o reconhecemos.
Manuel António Pina, Como Se Desenha Uma Casa, Assírio & Alvim