O Fulgor do Relâmpago
Há coisas que a vida te dá quando já mal
podias esperá-las, e sua luz
maravilhosa, elementar, puríssima,
faz-te feliz de súbito. E desgraçado,
pois compreendes que já não será teu
esse milagre agora e que não deves
às cegas entregar-te ao que era
próprio talvez de outro momento teu,
de um momento anterior, quando ainda tinhas
forças para ser livre.
Mas deixa-te levar e vive essa beleza
com coragem, sem medo. Para quê pensar
no que te convém. É fugaz a ventura.
Não a desprezes. Agarra-a. E esgota
o fulgor do relâmpago.
Depois,
tempo terás para continuar morrendo.
Eloy Sánchez Rosillo, As Coisas como Foram, Assírio & Alvim – http://www.flaneur.pt/produto/as-coisas-como-foram/
Pintura: The Angel Standing in the Sun, Turner