por Denise Levertov
O que eu pensava ser um rio
era afinal o céu.
O que eu pensava ser margem, ilha,
rochas, névoa fluvial,
revelou-se nuvem, sombra,
buracos abertos na tela do céu.
Mesmo a mais funda sombra
perto do horizonte
revelou não ser terra,
e mais baixo ainda estava
o verdadeiro horizonte.
No próprio alicerce do mundo
oblongo,
escuridão mais funda, uma árvore de redonda copa,
um poste telefónico, a aguçada
cordilheira de um telhado, chaminé, duas águas:
silhuetas num céu
diversamente branco, não a ilusória
brancura do rio – e tudo
muito pequeno sob a enorme
vista acima. Pequeno,
como se tivesse medo.
Imagem: Joseph Mallord William Turner