de Dino Campana
Ando pelas estradas
Obscuras estreitas e misteriosas:
Vejo através das vidraças
Mostrarem-se Gemnas e Rosas.
Há quem desça tacteando
As escadas misteriosas:
Por detrás das vidraças reluzentes
Estão as comadres a coscuvilhar.
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A estradinha é solitária:
Nem um cão: são escassas as estrelas
Na noite sobre os telhados:
E a noite parece-me bela.
E caminho, um pobre coitado
Na noite fantasiosa,
Ainda que na boca sinta
A saliva desgostosa. Ando pela pestilência
Ando pela pestilência e pelas ruas
E ando e continuo a andar,
Até onde as casas começam a escassear.
Encontro a relva: ali me estendo
Enroscado como um cão:
À distância um bêbado
canta os seus amores às persianas.
Imagem: Paul Klee